quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Guardião Desconhecido - Parte VI

- Onde estou? Que aconteceu? - perguntou Ricastin ainda com a cabeça a latejar, sem se aperceber que se encontrava no local disforme dos seus sonhos, ou pelo menos num muito parecido, pois desta vez tinha a certeza que se não estava a sonhar e estava bem acordado, devido à enorme dor de cabeça que sentia.
- QUE ACONTECEU? - berrou a voz dos seus sonhos, desta vez na forma de um homem de alguma idade, com o cabelo cinzento a puxar quase ao branco, com uns olhos e uma face que mostravam uma enorme experiência de vida, vestido com uma túnica branca, uma faixa lateral azul céu e umas sandálias de couro. - QUE ACONTECEU?! ISSO PERGUNTO EU! Nunca te tinhas comportado desta maneira! Nunca colocaste nenhum humano, nem mesmo a tua própria vida tão em risco! Não tiveste reacção! Das vezes que te encontraste com Cols Skernh ele fugiu sempre como um verdadeiro cobarde que é, e agora deixa-lo quase matar-te?! Tu não és o soldado infalível, intocável, destemido e frio que criei, ensinei e convivi ao longo dos tempos
- Por favor estou com uma dor de cabeça incrível, podia falar correctamente e de forma simples para eu entender? - disse Ricastin sem perceber uma única palavra do que o sábio homem acabara de pronunciar.
O homem suspirou, olhou em direcção ao infinito, e nessa altura pode ver-se nos seus olhos uma bondade e uma tristeza, aprofundada pelas rugas da face que mostravam a sua dura vida e sofrimento. Esteve um momento em silêncio, mas por fim falou, agora com uma voz branda, quase cansada:
- Sei que a tua última batalha quase te custou a vida e que perdeste grande parte dos teus poderes para os poderes salvar. - olhou na direcção dos amigos de Ricastin que também se encontravam naquele lugar completamente atónitos com o que estavam a assistir.
- Mas eu não me lembro de ele nos ter salvo. - protestou Ben meio a medo.
- Não me referia a vocês ignorantes, mas sim a toda a Humanidade! - respondeu o homem, tornando a sua voz rígida e áspera, deixando os amigos de Ricastin ainda mais assustados, apesar de estes sentirem dentro de si uma enorme sensação de segurança crescente. - Como estava a dizer - voltou à sua voz brande e cansada - a tua última batalha enfraqueceu-te imenso, e para evitar que desaparecesses tivemos que te transformar num humano, sem nunca alterar o que está dentro de ti, claro está. Sabíamos que era a única hipótese de recuperares todos os teus poderes, de outro modo seria o teu fim. - o homem suspirou, mostrando uma enorme tristeza na sua face. - Pensámos que aquela tinha sido a derradeira batalha, e que qualquer obstáculo que viesse a aparecer no caminho seria uma pequena pedra no caminho e que nessa altura já estarias recuperado. Contudo enganámo-nos redondamente! Nós, que supostamente somos donos e senhores do destino e fazemos com que a vida corra conforme o seu curso normal! - notava-se um certo sentimento de culpa nas palavras do homem e a mágoa dos seus olhos parece que aumentava. - Não é por mim, ou pelos que se encontram comigo é por todos os que encontram aqui na Terra. Tudo o que foi criado de forma gradual e se foi aperfeiçoando ao longo do tempo, tudo o que é gerido, para que não se forme o caos. Tudo isto se encontra em risco e o nosso soldado não está recuperado. Precisamos de ti para que o Escolhido tenha em posse todos os seus poderes para travar o que se avizinha. Eles tencionam aniquilar o escolhido antes de este voltar a ter acesso aos seus poderes. Como sabes, ou talvez não uma vez que ainda não recuperaste da amnésia que te induzimos para ser mais rápida a tua recuperação, também o Escolhido se encontra na mesma situação que tu, ou ainda mais fraco, receio eu. - notava-se uma enorme mágoa nos seus olhos.
- Mas... quem é esse Escolhido e que "soldado" sou eu, ou diz que sou? Era o senhor que se encontrava dentro do professor de Português? Ele está bem? Afinal que missão é essa e que perigos se aproximam? Que batalha supostamente travei eu? - Interrompeu Ricastin, subitamente recuperado da enorme dor de cabeça e com esta a fervilhar com questões sem resposta.
- A seu tempo saberás... Espero que em breve... Quanto ao teu professor de Português não era eu que estava dentro dele, eu não posso realizar tal habilidade, não existe humano capaz de me suportar como hospedeiro. Era Saulo que se encontrava nele. Posso dizer que era uma espécie de anjo da guarda como vocês lhes chamam na Terra. Contudo ao contrário que as vossas histórias contam cada pessoa não possui um ou dois ditos "anjos de guarda" a cuidar de si, o nosso número é bastante limitado e o vosso tem aumentado desmesuradamente. - respondeu calmamente o homem.
- Como está o professor de português? Eu tenho na memória um enorme clarão quando nos afastávamos do bar. Ele está bem? - Perguntou Ricastin preocupado.
- A sua alma está em paz num local bem mais acolhedor que a Terra, contudo o seu corpo terreno... - houve uma pausa que pareceu cortar a respiração de Ricastin e dos amigos - foi completamente vaporizado.
- NÃO!!! Como é que puderam!? Ele era um bom homem! Não tinha nada a ver com isto! - Gritou Ricastin sentindo uma enorme mágoa dentro dele.
- Eu sei... a culpa é nossa. Contudo não existe nenhuma guerra sem baixas. Como vocês dizem não se podem fazer omeletas sem partir ovos. Aproveitámos tua proximidade com ele para te tentar passar a mensagem e verificar se estavas apto. Se te consola posso-te garantir que está num lugar muito melhor que a Terra.
- Não tinham o direito! - lacrimejou Ricastin. Ben e os amigos aproximaram-se dele para o consolar.
- Bem a minha parte por agora está cumprida. Estão sãos e salvos. Vou vos enviar de volta para casa.
- Espere! - disse Ricastin - Que sítio é este e quem é você? Eu já cá estive nos meus sonhos!
- Pode-se dizer que é uma Zona de Transição. - Respondeu o homem.
- Transição de quê? - indagou Ben. Mas não obtiveram resposta pois sentiram-se a serem sugados daquele lugar.
Ricastin acordou de sobressalto. A cabeça doía-lhe ligeiramente. Tinha a vivência da noite inteira na cabeça. Mas terá sido mais que um sonho? Um pesadelo? Convencido que tinha sonhado levantou-se para tomar o pequeno-almoço.
Ao chegar à cozinha ligou a televisão para ver as notícias matinais.
Encontrava-se tomando o seu pequeno-almoço descansadamente quando algo lhe chamou tanto a atenção na televisão que teve que cuspir a comida que tinha na boca para não se engasgar.
- Notícia de última hora! O Bar Black Light recentemente aberto foi alvo de uma explosão violentíssima tendo arrasado por completo as instalações e a zona circundante do bar. Até ao momento contam-se dezoito vítimas mortais, suspeitando-se que entre elas se encontra um professor de Português da escola D. Franscisco De Avis, pois foi possível identificar a matrícula do seu carro junto ao local. Contudo os corpos não estão identificáveis... - a pivot fez uma pausa e engoliu em seco - Apenas se tem a certeza de dezoito vítimas mortais, pelo identificação de dezoito tipos de DNA diferentes em pedaços de corpos recolhidos...- voltou a fazer uma pausa. - Os corpos foram literalmente vaporizados. - A pivot saiu do estúdio a correr bastante aflita, talvez mal disposta.
Mal acabou de ouvir a notícia Ricastin ouve o telemóvel tocar. Era Ben.
- Por favor diz-me que estou a sonhar! - Gritou-lhe Ben ao telémovel! - Tu viste as Notícias? Nós estivemos lá! Que raio aconteceu ontem? Alguém me explica algo?
- Calma. Eu sei tanto como tu. Também acabei de ver a notícia agora. Não te consigo adiantar mais que o velho homem nos disse.
- Velho homem? Qual homem é que falas? - perguntou Ben meio admirado.
- O homem que... - Ricastin fez uma pausa e apercebeu-se que apenas ele se recordava da passagem pelo lugar disforme dos seus sonhos - Nada esquece foi confusão minha. Deve ter sido da bebida. - fingiu o riso
- Da bebida? Mas tu não bebeste nada! Bem que estavas esquisito, mas não te vi beber nada. - respondeu Ben bastante desconfiado.
- Mas bebi acredita. Não muito, mas sabes como sou, pouca bebida afecta-me bastante. voltou a fingir o riso.
- Está bem. Podemos encontrar logo à tarde para falarmos disto? Sinto-me confuso. - Pediu Ben.
- Hum.. Não, não posso! Tenho coisas combinadas com os meus pais. Desculpa tenho que desligar. - Desligou o telemóvel e pôs a mãos à cabeça em acto de desespero. Encontrava-se num meio de uma teia traiçoeira e perigosa, sem saber o que fazer. Lembrou-se da noite em que supostamente recebera um dito testemunho, a luz e a espada. Mas onde se encontravam esses objectos? Se é que se tratavam de objectos. Provavelmente não passou de mais um sonho sem significado. Ou não...

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